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Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas (I)

Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas (I)
Planters Movement
ago. 20 - 7 min de leitura
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O plantio de igrejas é um assunto que transita entre a missiologia e a eclesiologia, cujo tema mais completo seria “plantio, crescimento, multiplicação e revitalização de igrejas”. Os termos “plantio” ou “plantação” igualmente se referem ao processo de semeadura de um campo na expectativa que a planta germine e, desde o século 19, tem sido usado seu correlativo em inglês (church planting) para indicar a evangelização local com a intenção de ver a graça de Deus convertendo indivíduos que venham a se reunir formando igrejas locais. Outros termos usados para essa prática cristã são “formação” ou “organização” de igrejas. Sugiro que se evite o termo “implantação”, que sugere algo bem diferente, impositivo ou forçado.

Conceitos introdutórios

O termo mais usado para “igreja” no Novo Testamento – ekklesia – é composto pela preposição ek (para fora de) e a raiz kaleo (chamar) que literalmente indica “chamada para fora”, dando a ideia de uma comunidade local e dinâmica; chamada, portanto extraída de onde estava, e ao mesmo tempo enviada, não enraizada em si mesma. O termo é usado para se referir a um grupo de pessoas em uma igreja local ou em uma casa (1Co 1.2; Fm 2), ao conjunto das igrejas locais em certa região (Gl 1.2) e à igreja universal (Mt 16.18).

O próprio termo ekklesia, igreja (chamada para fora), parece conter a dinâmica simultânea do chamado e envio de Cristo aos primeiros discípulos quando ele os convida a vir para que sejam enviados como pescadores de homens ((Mt 4.19).

O termo também está ligado a “agrupamento de indivíduos” e de certa forma à “instituição”, porém, em todo o Novo Testamento, adquire o conceito de “comunidade dos santos” e, fora Mateus 16.18 e 18.17 está ausente dos evangelhos aparecendo 23 vezes no livro de Atos e 114 vezes em todo o Novo Testamento.

Nas cartas paulinas e no livro de Atos percebe-se que o apóstolo Paulo observou a necessidade de não apenas evangelizar as cidades e regiões, mas plantar igrejas locais que vivessem Cristo e falassem do seu Nome. Paulo usa as expressões phuteuo, plantar (1Co 3.6-9), oikodomeo, edificar (Rm 15.20, 1Co 3.10) e gennao, dar à luz (1Co 4.15) ao se referir ao ministério de plantar e fortalecer igrejas. O apóstolo, ao afirmar que proclamou o evangelho de Cristo de forma ampla, “(...) desde Jerusalém e circunvizinhanças até o Ilírico (...)” (Rm 15.19) se referia à evangelização e às igrejas plantadas naquela região. Na ótica paulina, proclamar o evangelho não se resumia simplesmente à pregação inicial ou à colheita de alguns frutos, mas ao amadurecimento e fortalecimento dos cristãos na Palavra, encorajando-os a permanecerem unidos em igrejas locais.

Devemos conservar em mente que o plano de Deus é redimir e resgatar pessoas por meio da sua graça expressa no inigualável sacrifício de Jesus Cristo (Ef 1.3-14; 1Co 3.6), portanto Jesus comissionou a sua igreja a proclamar o evangelho e fazer discípulos em toda parte (Mt 28.18-20); o Espírito Santo estabeleceu no Pentecostes o fortalecimento espiritual e a multiplicação das igrejas locais (At 2); e a plantação de igrejas tornou-se um ponto central do ministério de Paulo e dezenas de cooperadores (1Co 3.5-6; Rm 15.19-20).

Em 2012, houve uma controvérsia missiológica entre algumas iniciativas missionárias no Oriente Médio, onde um grupo passou a defender a evangelização sem a intenção de plantar igrejas. Tive o privilégio de participar de um grupo de debate sobre o assunto e tratava-se de uma questão interessante: porquê plantar igrejas e não somente evangelizar e discipular os convertidos?

Em resumo, podemos compreender que há razões teológicas, pois é da natureza do povo de Deus se reunir para a Palavra, adoração, comunhão e oração (At 1.13-14; 2.42-47; 1Co 11.20); há razões missiológicas, pois a igreja local é chamada para a missão de ser sal e luz perto e longe (Mt 5.13-16; Mt 28.18-20; Rm 15.20); e há também razões estratégicas, pois o plantio de igrejas é a forma mais efetiva de assegurar que o evangelho se enraíze em determinada aldeia, cidade ou território por mais de uma geração.

Vastas áreas evangelizadas, mas sem igrejas locais, voltaram ao estado estéril na geração seguinte como percebemos pela análise histórica de Patrick Johnstone.[1] Entretanto, territórios povoados por igrejas locais tendem a manter o evangelho vivo e transmitido de pais para filhos por várias gerações. É certo também, por outro lado, que o abundante plantio de igrejas sem um intencional foco no discipulado, tem gerado regiões com igrejas sincréticas e nominais. Mostra, portanto, que no plantio de igrejas o discipulado deve ser um dos capítulos mais vivos.

A presença de igrejas locais alimentadas na Palavra conferiu segurança estratégica para Paulo ao considerar que já não havia mais o que fazer na parte leste do império romano, desejando seguir para a Espanha, a parte oeste do império (Rm 15.24). Ele chega a afirmar que não tem mais “campo de atividades nestas regiões” (v. 23), justificando a sua partida. Paulo, mais do que outros, sabia que ainda havia milhares de pessoas que não conheciam a Cristo onde ele transitava, porém considerava a região alcançada pelo evangelho pela existência de igrejas locais em lugares estratégicos.

De acordo com Gailyn Van Rheenen, plantar igrejas é a o ato de reproduzir comunidades locais centradas na Palavra e na adoração que refletem o reino de Deus no mundo através da proclamação do evangelho vivo.[2] Aubrey Malphurs define plantio de igrejas como uma aventura de fé no planejamento e processo de início e crescimento de igrejas locais.[3] Em uma perspectiva reformada, podemos definir plantio de igrejas como o resultado da soberania de Deus que decidiu chamar para si pessoas de todos os povos, línguas, tribos e nações por meio da sua graça expressa no sacrifício do Cordeiro Jesus, ajuntando-as em igrejas locais centradas na Palavra, comunhão, adoração, oração e missão, encorajadas pelo Espírito Santo, debaixo do seu poder e para a sua própria glória (Ef 2.1-10; At 2.42-47; Ap 5.9; Rm 16.25-27).

A rigor, não há plantadores ou revitalizadores de igrejas, visto que é Deus quem chama, salva e edifica. É Deus quem planta a sua igreja, faz crescer, revitaliza e multiplica. O termo “plantador” ou “revitalizador” de igreja, portanto, só faz sentido na perspectiva bíblica dentro do entendimento de que, com os dons distribuídos por Deus, debaixo da orientação e força do próprio Deus, pessoas são chamadas para a evangelização, discipulado, ensino e pastoreio do seu povo (Ef 4.11).

By Ronaldo Lidório


[1] Johnstone, Patrick. O Futuro da Igreja Global. SP: Cultura Cristã, 2017.

[2] Van Rheenen, Gailyn e Parker, Anthony. Missions: biblical foundation and contemporary strategies. Grand Rapids: Zondervan, 2014.

[3] Malphurs, Aubrey. The Nuts and Bolts of Church Planting: A Guide for Starting Any Kind of Church. Grand Rapids: Bakerbooks, 2011.

 

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