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PANDEMIA, IGREJA E MISSÕES: O QUE DEUS “ESPERA” DE NÓS?

PANDEMIA, IGREJA E MISSÕES: O QUE DEUS “ESPERA” DE NÓS?
Charles dos Santos Silva
abr. 20 - 10 min de leitura
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Estamos vivendo dias de grandes demandas que envolvem o contexto de sofrimento, tensões e especulações sobre as razões pelas quais o mundo no qual vivemos enfrenta uma das maiores crises da história como alguns estudiosos tem afirmado. Neste cenário é fácil ouvir muitas vozes ecoando em uma tentativa de trazer respostas rápidas para questões complexas.

O nosso mundo outrora foi bem definido por Ronaldo Lidório como um mundo líquido, pluralístico e multirreligioso[ii]. E diante deste fato, a pandemia da covid-19 tem nos ensinado e revelado muitas coisas óbvias segundo as escrituras que o nosso coração vacilante e desesperadamente corrupto[iii], insiste em não ver:  Que o Deus Todo Poderoso e Criador não está inerte aos acontecimentos e usa todos os eventos na esfera humana para de forma pedagógica instruir seu povo e usa-lo para se revelar ao mundo.

Acho precipitada a análise prematura sobre qualquer fato da magnitude de uma pandemia que tem gerado uma catástrofe global ser reduzida a narrativas políticas, ideológicas, filosóficas, escatológicas e etc, que se proponha a olhar o fato por apenas um ângulo ou faceta e não reflita amplamente o caráter do Deus revelado nas escrituras. Contudo esta pandemia pode nos ensinar questões e lições práticas, simples e ao mesmo tempo profundas sobre Deus que somos ávidos por nos esquecer:

Não podemos reduzir a pandemia apenas ao universo do juízo divino

A Bíblia declara algo extremamente completo sobre Deus: Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é. [iv]  Não existe nada errado em Deus utilizar situações para subjugar reinos, nações e povos, mas o caráter global da pandemia nos propõe uma reflexão que vai além de um reducionismo teológico. Podemos ver doçura e graça mesmo quando Deus executa seus juízos, entretanto todos os desígnios de Deus visam a glória devida ao seu santo nome. Não podemos buscar de formar rápida e precipitada uma resposta para tudo o que estamos vivendo, entretanto, não podemos esquecer de que o Pai dos céus faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.[v]

N. T. Wright fez a seguinte análise que precisa nos fazer pensar biblicamente sobre o que está acontecendo sem desembocarmos em reducionismos e relativismos:

Não há zona neutra. Na medicina, não existe, como no caso da Suíça em tempos de guerra, um lugar onde você poderia escapar por um tempo, tranquilizar-se e ponderar sobre os próximos passos a serem dados. Acaso alguém sabe o que está acontecendo e o porquê? Alguém está tentando nos dizer alguma coisa? O que devemos fazer sobre a pandemia? Em boa parte do mundo antigo, assim como em muitas partes do mundo moderno, grandes desastres (terremotos, vulcões, incêndios, pragas) são normalmente associados à ira dos deuses.[vi] Wright, N.T

Ou seja, ao longo da história é comum reduzir os eventos da magnitude de uma pandemia a fúria dos “deuses” ou ao juízo de Deus como nos ciclos cristãos. Não podemos fragmentar a soberania de Deus a um aspecto só, ou cairemos naquilo que o saudoso Eugene H. Peterson chamou de a maldição do Cristo genérico[vii].

Precisamos chorar com os que choram, acolher, consolar e termos amor prático e intencional

Um exemplo dado por N. T. Wright sobre a pandemia no Reino Unido ilustrará bem este ponto:

Na verdade, a melhor resposta que ouvi nas últimas semanas não foi à pergunta: “por quê?”, e sim à pergunta: “o quê?”: o que podemos fazer? No Reino Unido, o governo pediu o auxílio de voluntários que ajudassem o Serviço Nacional de Saúde em todas as tarefas não especializadas e urgentes. Meio milhão de pessoas se inscreveram quase ao mesmo tempo, tantas que foi difícil encontrar as devidas tarefas para todas. Profissionais da saúde aposentados voltaram para a linha de frente. Alguns contraíram o vírus e morreram. Profissionais e voluntários como eles estão fazendo o que os primeiros cristãos faziam em épocas de pestilência. Nos primeiros séculos da nossa era, quando doenças graves atingiam um vilarejo ou uma cidade, os ricos corriam para as colinas (parte do problema costumava ser o ar denso e fétido da cidade). Cristãos ficavam e cuidavam dos enfermos. Às vezes, pegavam a doença e morriam. Pessoas ficavam surpresas: “Por que vocês agem dessa forma?”. A resposta geralmente era: “Porque somos seguidores de Jesus, que deu sua vida para nos salvar. É isso que fazemos também”. Ninguém jamais havia pensado em fazer esse tipo de coisa antes. Não é de admirar que o evangelho se propagasse, mesmo quando os romanos faziam o possível para destruí-lo. O fascinante é que grande parte do mundo entendeu o recado. Como argumentou o historiador Tom Holland em seu mais recente livro Dominion [Domínio], muito do que tomamos por certo nas atitudes sociais de hoje foi uma inovação cristã.[viii] Wright, N.T

O termo da vez no Brasil e em muitos blocos do ocidente é polarização. Percebi muita gente caminhar por este universo de reduzir o problema para esfera política, ideológica e afins,  gastando neste contexto, energia, recursos e habilidades para defenderem seus pressupostos. Entretanto, algumas perguntas me serviram como elemento de reflexão norteadora: O que Deus espera de mim enquanto cristão neste cenário? O que Deus quer que sua Igreja faça? Como agir diante de tanto sofrimento e de tamanha tempestade de ideias que destoam entre si? Percebi claramente que as respostas a estas perguntas passam pelo senso de compromisso que temos com a missão de Deus no mundo.  Estamos aqui para vivermos para glória de Deus, e a glória de Deus passa pelo senso de compromisso prático que o seu povo tem com Ele em relação a proclamação plena do evangelho interligada a aspectos tais como: acolhimento, consolação, solidariedade, aconselhamento e encorajamento.

Todos nós perdemos amigos, irmãos, familiares neste cenário de pandemia. Isto deve nos remeter a uma sensibilidade de apoiar pessoas em sofrimento fazendo exatamente o que o evangelho diz que  os cristãos devem fazer. Em vez de debater por questões temporais e que não transformarão a vida das pessoas, resolvi caminhar para aquilo que entendo que é mais importante: Acolher refugiados, mobilizar igreja para este fim, solidarizar-me com os enlutados, prover ajuda aos necessitados, mas acima de tudo pregar o evangelho que é o instrumento que transforma a mentalidade do homem para sua condição eterna diante de Deus.

Precisamos ser uma Igreja mais missional e menos ativista

Tudo que expressei até aqui passa pelo senso de compreensão de qual papel Deus quer que desempenhemos em sua missão. O Deus da missão é um Deus missionário, e muito mais do que ativistas ele quer levantar e usar discípulos para participar da sua missão. O fato paradoxal disso é que Deus não precisa de nada e de ninguém para executar sua missão redentiva, mas ele escolheu dar este privilégio de participação na missão Dele para sua Igreja, uma comunidade de discípulos interdependentes. John Stott certa vez escreveu:

O mundo é a arena em que devemos viver e amar, testemunhar e servir, sofrer e morrer por Cristo.[ix] Stott, John

A pandemia trouxe dificuldades em todos os cenários, e ainda que não tenhamos todas as respostas para ela, e o ponto é exatamente este, não precisamos ter respostas para todos os eventos e principalmente respostas precipitadas, como se fossemos detentores dos oráculos divinos. Precisamos apenas responder de forma prática aquilo que as escrituras disponibilizam sobre nossa missão e não nos acovardemos diante de todos os quadros que nos cercam. A pandemia serve para nos mostrar que não somos senhores da nossa existência e de que nossas agendas de prioridades estão equivocadas em vários momentos, entretanto, o cenário também nos faz lembrar o que escreveu Hernandes Dias Lopes:

A história não caminha para o caos nem está dando voltas cíclicas, mas caminha para um fim glorioso da vitória completa de Cristo e da igreja.[x] Lopes, Hernandes Dias

Não podemos esquecer que o fim glorioso da Igreja passa pelo presente glorioso de em qualquer cenário se posicionar para o cumprimento global da grande comissão anunciando Cristo e fazendo discípulos em todas as nações até que ele volte.[xi] Nem pandemias, guerras, perseguições ou quaisquer outras circunstâncias nos separarão do amor de Deus e este amor precisa ser compartilhado nos termos de Jesus para seu louvor e glória. Soli deo gloria!

REFERÊNCIAS


[i] www.charlessantos.net
[ii] https://www.ultimato.com.br/conteudo/evangelizacao-urbana-em-um-mundo-liquido-pluralistico-e-multirreligioso
[iii] Jeremias 17:9-10. RA.
[iv] Deuteronômio 32:4. RA.
[v] Mateus 5:45
[vi] WRIGHT, N.T.. Deus e a pandemia (p. 9). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
[vii] PETERSON, H. Peterson. A Maldição Do Cristo Genético. Mundo Cristão, São Paulo, 2007.
[viii] WRIGHT, N.T.. Deus e a pandemia (p. 10). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
[ix] STOTT, John. O cristão em uma sociedade não cristã (p. 43). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
[x] LOPES, Hernandes Dias. Estudos no Livro de Apocalipse. Hagnos, São Paulo, 2005.
[xi] Mateus 28:18-29.


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